As questões da saúde mental colocam-se desde a mais tenra infância até à vida adulta e ao longo da vida com necessidades específicas e fragilidades próprias. É a saúde mental que permite o bem-estar e a qualidade de vida pois, abre aos cidadãos as portas da realização intelectual e emocional, bem como a integração na escola, no trabalho e na sociedade.
De acordo com os princípios gerais de política de saúde mental (Lei nº. 36/98 de 24 de Julho) a prestação de cuidados de saúde mental é promovida prioritariamente a nível da comunidade, de forma a evitar o afastamento dos doentes do seu meio habitual e a facilitar a sua reabilitação e inserção social.
Segundo informação da Coordenação Nacional para a Saúde Mental (2008), os estudos epidemiológicos mais recentes revelam que as perturbações psiquiátricas e os problemas de saúde mental tornaram-se a principal causa de incapacidade, e morbilidade nas nossas sociedades, já que das 10 principais causas de incapacidade, 5 são psiquiátricas.
O Projeto SaudavelMente destina-se à monitorização da adesão terapêutica dos doentes de psiquiatria no domicílio e debate-se com questões relacionadas com a saúde mental e a doença mental, dado a sua complexidade e por afectar os utentes como um todo, na sua individualidade e na sua relação com os outros, bem como com o meio envolvente.
A doença mental ainda é causa de rejeição e estigma na nossa sociedade. A pessoa portadora de patologia mental confronta-se com o medo e os preconceitos baseados em equívocos sobre a doença mental. A estigmatização aumenta o sofrimento pessoal levando à exclusão social podendo negar o acesso à habitação e ao emprego.
É de vital importância alterar as atitudes da comunidade e da própria família, fornecendo-lhes informação necessária e adequada, com vista à promoção da inclusão social e protecção dos direitos da pessoa doente.
Além da estigmatização por parte da comunidade, a maior parte das utentes portadoras de patologia mental também são rejeitadas pela família. É necessário introduzir uma filosofia de participação que permita a prestação de cuidados, a promoção da cidadania e para isso tem de existir a participação dos utentes e familiares na detecção das necessidades, no planeamento de medidas e na avaliação dos serviços.
Os utentes e respectivas famílias devem ter oportunidades e apoio para se organizarem e os órgãos do poder devem estar abertos à sua participação.
As implicações da não adesão ao tratamento são significativas; traz complicações médicas e psicológicas da doença, reduz a qualidade de vida dos utentes, aumenta a probabilidade de desenvolvimento de resistência aos medicamentos, leva ao desperdício de recursos em cuidados de saúde; desgasta a confiança nos sistemas de saúde o que leva a uma redução da qualidade de vida e satisfação dos utentes e dos seus familiares. Torna-se necessário a criação de estratégias, com base nas orientações do Plano Nacional de Saúde Mental (2007-2016) que passam pela articulação e colaboração entre o DPSM do CHBV e a UCC.
O papel fundamental dos técnicos da UCC é manter estas utentes inseridas na família e comunidade e, sempre que tal não se verifique trabalhar no sentido da sua reinserção, usando para tal todos os meios ao seu alcance e, ainda todos os recursos existentes na comunidade para conseguir atingir os objetivos propostos.
Desta forma, terá de existir um trabalho de equipa multiprofissional consolidada e, com grande comunhão de sinergias, no sentido de ajudar cada vez mais os utentes a permanecerem inseridos na comunidade, sem agravamento do seu estado de saúde.
População Alvo
Utentes referenciados pelo DPSM em consulta de vigilância psiquiátrica no Hospital Infante D. Pedro e inscritos no Centro de Saúde de Aveiro em 2015 (N=118).
Objetivos
A. Monitorizar a adesão terapêutica dos doentes do foro psiquiátrico;
B. Reduzir o número de internamentos e de consultas no Centro Hospitalar do Baixo Vouga, HIP
Aveiro (CHBV- HIP) por abandono de NAP;
C. Promover o acesso aos cuidados de Saúde Mental de proximidade.
O Programa Nacional para a Saúde Mental, aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 49/2008, a 6 de Março preconiza na sua alínea b) a Implementação de programas de promoção e bem-estar na saúde mental da população e prevenção, tratamento e reabilitação das doenças mentais.
Os jovens universitários encontram-se numa situação de vida particularmente difícil e mentalmente exigente. Na sua maioria encontram-se distanciados do seu principal suporte familiar e das estruturas de apoio que tinham até entrarem na faculdade. Além deste distanciamento social, familiar e afectivo, são-lhes colocados novos e exigentes desafios. É grande
a pressão de resultados académicos, não só para a obtenção de um grau académico mas também, para a obtenção da melhor nota possível como forma de melhorar as hipóteses de emprego no final do curso. Muitos destes alunos enfrentam dificuldades económicas, tornando ainda mais difícil esta fase da sua vida. A adaptação à vida académica, as praxes, os convívios por vezes com comportamentos exagerados, são também factores importantes na sua saúde mental. A dificuldade de socialização e a não interiorização das “regras” de convivência universitária pode levar a comportamentos de rejeição ou marginalização. É também uma fase de descobertas e de exploração dos limites do corpo e das capacidades pessoais. Muitas vezes, o início de relações pessoais muito próximas e de aprendizagem dessas mesmas relações, nem sempre harmoniosas.
Existem pois, múltiplos factores nesta fase da vida que podem originar alguma desarmonia mental. McMichael (1975) aponta os problemas de saúde mental e o elevado stress como dois dos principais motivos quer pela reprovação no primeiro ano académico, quer pelo abandono dos estudos. Parece ser adequado que exista no meio universitário, um espaço de Saúde Mental que promova o bem-estar físico e mental e seja também um espaço terapêutico.
A UCC Aveiro estando vocacionada para a promoção e prestação de cuidados de saúde na comunidade, disponibiliza um técnico de saúde com formação especializada em Saúde Mental e Psiquiatria para consulta e orientação dos estudantes.
População Alvo
Alunos da Universidade de Aveiro.
Objectivos Gerais
A. Identificar situações patológicas do foro mental;
B. Reduzir a procura destes jovens por serviços de urgência/consulta de psiquiatria;
C. Promover o encaminhamento e orientação para serviços médicos especializados.
O Programa Nacional para a Saúde Mental, aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º49/2008, a 6 de Março preconiza na sua alínea b) a Implementação de programas de promoção e bem-estar na saúde mental da população.
A prática recente de actividades meditativas no mundo ocidental foi importada de modelos culturais e religiosos de povos e culturas orientais/asiáticas, que as integram socialmente há milhares de anos. Estes modelos meditativos ou de mindfulness integram igualmente as práticas de medicinas tradicionais nessas regiões.
Jon Kabat-Zinn, PhD, Professor Emérito de Medicina e director fundador da Clínica de Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR) da Escola Médica da Universidade de Massachusetts, foi talvez o primeiro investigador a implementar um programa de mindfulness na redução de stress a um grupo de utentes do hospital onde trabalha. Este programa resultou num largo trabalho de investigação de várias universidades em todo o mundo. Os benefícios para a saúde em áreas
como Esclerose Múltipla, Redução Stress, Neuroplasticidade, Sistema Imunitário, Dor Crónica, entre muitos outros, estão hoje cientificamente comprovados e validados como se depreende pela revisão bibliográfica. O programa inicial da Escola de Medicina da Universidade de Massachusetts estende-se hoje a mais de 700 hospitais em todo o mundo, sendo igualmente praticado em centenas de escolas e universidades. A universidade de Harvard por exemplo inclui no seu campus um programa de mindfulness com sessões diárias para alunos e funcionários (15).
Exemplos Unidades de Saúde/Ensino onde existem programas de mindfulness, são:
• El Camino Hospital – Mountain View Campus. 2500 Grant Road, Mountain View, CA 94040 (https://www.elcaminohospital.org/stay-healthy/class/mindfulness-based-stressreduction- program-free-introductory-session)
• El Camino Hospital – Los Gatos Campus. 815 Pollard Road, Los Gatos, CA 95032
• Dominican Hospital 1555 Soquel Dr. Santa Cruz, CA 95065
• Massachusetts Medical School. University of Massachusetts Medical School 55 Lake Avenue North. Worcester, MA 01655
O estudo e validação destas práticas e os benefícios para a saúde mental levou a que fosse incluídas em programas curriculares de escolas de psicologia, sendo hoje popular a prática de Mindfulness-Based Cognitive Therapy (MBCT) como abordagem terapêutica na terapia cognitiva.
Pese embora a evidência científica recente da prática meditativa de mindfulness, no ocidente existia já uma evidência de práticas de relaxamento mental muito ligadas à hipnoterapia. A utilização deste tipo de estratégias terapêuticas sempre foi utilizada com alguma reserva, mas têm um domínio de aplicabilidade, quer na psicologia quer na medicina, nesta última,
particularmente no domínio da medicina da dor.
Concomitantemente às práticas meditativas, existe um conjunto de práticas orientais de exercícios físicos com movimentos lentos, harmoniosos, coordenados com movimentos respiratórios, que procuram contribuir para uma melhoria da saúde do indivíduo quer a nível físico quer mental. Estas práticas possuem modelos diferentes e objectivos diferentes consoante a
localização geográfica, religião, etc.. Yoga, Qi Gong, Ba Dua Jin, Tai Chi, são algumas destas práticas que integram aspectos meditativos e de exercício físico e que são de certa forma conhecidos do mundo ocidental.
Em Portugal, o burnout dos profissionais de saúde tem sido particularmente estudado na última década. Marôco et al (2016) inquiriram um total de 1262 enfermeiros e 466 médicos em Portugal, entre 2011 e 2013 e encontraram níveis de burnout em 47,8% dos médicos e enfermeiros inquiridos. 21,6% destes apresentavam sintomas moderados desta síndrome que combina a exaustão física e emocional, a perda de realização profissional e a despersonalização (incapacidade de empatia, cinismo). Este estudo, bem como outros semelhantes revelam a necessidade de se mudaram comportamentos e práticas nos locais de trabalho com vista a uma melhor saúde mental destes profissionais.
Goodman et al, realizaram estudos em técnicos de saúde durante 6 anos. A cada grupo foi oferecido um curso de MBSR (Mindfulness Based Stress Reduction) de 2,5 horas semanais durante 8 semanas mais um retiro de 7 horas. Foi utilizada a escala de Maslach Burnout Inventory e o SF12v2 para percepção do bem-estar físico e mental. Este estudo apresentou resultados de melhoria significativa comparativamente aos resultados no inicio do curso quer para o MBI quer para a percepção do estado mental do SF12v2. A evidência sugere que este tipo de práticas é efectiva na melhoria de parâmetros de burnout.
A existência de um espaço para a prática diária de actividades de mindfulness promovidas pela UCC de Aveiro seria uma mais-valia para funcionários e utentes do Centro de Saúde de Aveiro.
Este projeto será pioneiro em todo o sistema de saúde em Portugal e poderá ser uma fonte de ignição para projetos semelhantes tendo em conta os elevados benefícios em termos de bemestar dos profissionais, diminuição de absentismo, diminuição de burnout, comparativamente aos custos envolvidos que são mínimos.
População Alvo
Utentes do ACES de Aveiro;
Funcionários do Centro de Saúde de Aveiro.
Objectivos Gerais
A. Promover a procura do espaço terapêutico de saúde mental pelos funcionários do Centro de Saúde de Aveiro;
B. Promover a procura do espaço terapêutico de saúde mental pelos utentes do ACES.